Cibercultura

Antes de elaborar o conceito de cibercultura, é importante referir que este existe no âmbito da virtualidade. Para Lévy, o virtual pode ser interpretado à luz da compreensão e das vivências de cada um. É moldado pelo e para o ser que nele habita.

Faz parte do campo abstrato pois existe a partir da nossa compreensão da realidade. Salienta ainda que o computador é apenas um instrumento que tem a capacidade de manipular os signos da linguagem e, o que nós entendemos desse significado encontra-se na nossa cabeça.

Lévy argumenta que com o “dilúvio informacional”, emergiram novas formas de conhecimento bem como da sua distribuição, que se encarregam da mudança da sociedade em si.

Surge assim um novo universal e a cibercultura é sinónimo desta mudança. Caracteriza-se pelo "conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço" (Lévy, 1999, pág. 17).

Para o filósofo e sociólogo, a cibercultura “se constrói e se estende por meio da interconexão das mensagens entre si" (Lévy, 1999, pág. 15) e, consequentemente, origina a existência de uma inteligência coletiva que apenas existe porque cada um de nós possuiu conhecimentos diferentes. A sua mescla origina um conhecimento coletivo com a contribuição de todas as visões. Os nossos fóruns de debate e troca de ideias são um excelente exemplo desta inteligência coletiva, caracterizadora da cibercultura. São formas de gerarem novas ideias e intercâmbios entre todos os seus intervenientes.

A cibercultura coexiste com as outras, mas ela é fruto das nossas práticas, atitudes, pensamentos, perceções e leituras que desenvolvemos no ciberespaço. Permite a emergência de uma via de comunicação recíproca.

Lévy também aborda o campo da educação e defende “a aclimatação dos dispositivos e do espírito do EAD (ensino aberto e a distância) ao cotidiano e ao dia a dia da educação”. É da opinião que o sistema educacional publico deva “orientar os percursos individuais no saber e de contribuir para o reconhecimento dos conjuntos de saberes pertencentes às pessoas, aí incluídos os saberes não-acadêmicos.” (Lévy, 1999, pág. 158).

De facto, a implementação do EaD, como é o caso dos ciclos de estudo da Universidade Aberta, maximiza as potencialidades de cada um, dado que para além dos conhecimentos académicos, requer capacidades e saberes intrínsecos ao sujeito. Deste modo, o ensino aberto permite o criação de experiências que culminam no desenvolvimento dos seus intervenientes.

Na sua teoria é também fundamentada a ideia de comunidade mundial pois considera que esta terceira etapa da evolução mantém a universalidade. "Uma comunidade virtual é construída sobre as afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre projetos mútuos, em um processo de cooperação ou de troca, tudo isso independentemente das proximidades geográficas e das filiações institucionais" (Lévy, 1999, pág. 127).

Gostava agora de exemplificar esta ideia de comunidade mundial, com o uso dos hashtags. Na rede social Twitter, por exemplo, o uso do # seguidamente de uma palavra chave, aproximou indivíduos no mundo virtual através de comentários e opiniões sobre determinado assunto. Geram novas manifestações culturais, sociais e comunicacionais bem como impulsionam movimentos e fenómenos que transitam da realidade, para a sua perpetuação no ciberespaço. Atualmente, as etiquetas não se restringem ao território virtual, passaram a ser exibidas em programas de televisão, anúncios comerciais e até mesmo ao vocabulário comum dos jovens.

Em suma, os hashtags como fenómeno de cibercultura preservam a ideia de comunidade universal aberta e ilimitada, com capacidade de integrar todo e qualquer movimento, quer seja real ou virtual.

"A cibercultura expressa uma mutação fundamental da própria essência da cultura." (Lévy, 1999, pág. 247).

O ciberespaço é um território infinito que abrange qualquer um que queira fazer parte dele. “as fronteiras do mundo tornam-se mais permeáveis, maleáveis, interativas.” (Lévy, 2001, pág. 153) e é com a contribuição das perceções, gostos, emoções e atitudes de cada um que se constrói a cibercultura.


Ana Couto


Lévy, P. (1999). Cibercultura. Editora 34.

Lévy, P. (2001). Filosofia World. Instituto Piaget.

https://www.youtube.com/watch?v=sMyokl6YJ5U&feature=youtu.be&ab_channel=FronteirasdoPensamento

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